Os mercados internacionais acordaram com um terramoto de política monetária. As autoridades chinesas decidiram depreciar o yuan em 1,9%, a maior desvalorização desde meados dos anos 90.

O banco central chinês atirou o câmbio do yuan face ao dólar de 6,1162 para 6,2298, roubando valor a uma moeda que já muitos consideravam estar subvalorizada, embora tivesse vindo a ganhar valor a outras grandes divisas nos últimos meses. Esta depreciação de 1,9% é a maior desde meados dos anos 90, aponta o Financial Times. É também a mais importante desde que a China adoptou um modelo de flutuação controlada para a sua moeda, em 2005. Antes do surpreendente ajustamento desta manhã, a maior desvalorização tinha sido de 0,16%.

O que levou a China a uma actuação tão radical? Essencialmente a forte desaceleração da sua economia, ao mesmo tempo que procura convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a aceitar o yuan como uma moeda de reserva mundial. A desvalorização de moedas rivais tem prejudicado a competitividade das exportações chinesas, com a venda de bens a cair 8,3% em Julho face ao mesmo mês de 2014. No primeiro e segundo trimestre deste ano, a China cresceu a um ritmo anualizado de 7%, o mais baixo em seis anos. A depreciação do yuan deverá impulsionar as exportações e, espera Pequim, aliviar os custos de financiamento.

“O yuan tornou-se relativamente caro, à medida que outras divisas asiáticas se enfraqueciam face ao dólar. Com o medo de uma desaceleração económica a crescer, desvalorizar o yuan era a única coisa que a China ainda não tinha tentado, depois de já ter implementado políticas orçamentais, monetárias e de estímulo aos mercados de capitais”, explicou ao The Guardian, Masafumi Yamamoto, da Monex, em Tóquio.

O Banco Popular da China anunciou também que a depreciação não seria repetida no futuro e que reflectia apenas uma alteração no cálculo do câmbio do yuan e no modelo de flutuação do mesmo (2% a partir de um ponto médio). A sua definição passará também a estar de acordo com a oferta e procura dos mercados internacionais de divisas e os movimentos cambiais das moedas mais influentes do mundo. Os analistas interpretaram estas alterações como uma forma de Pequim fazer algumas cedências ao FMI, ao mesmo tempo que mantém nas mãos do banco central o controlo sobre a flutuação da sua moeda.

Já há algum tempo que se especulava que caminho poderia a China seguir à medida que se assistia ao arrefecimento do seu motor económico. Contudo, os analistas antecipavam outro tipo de medidas menos agressivas, como alterações ao nível de reservas mínimas que os bancos têm de deter no banco central.

“Os mercados estão à espera de cortes [no nível de reservas], mas não esta reavaliação/depreciação”, refere ao Financial Times Aneytte Beacher, economista da TD Securities para a região pacífico-asiática. “Foi um choque para aquilo que tem sido um mercado de Verão adormecido.”

Esta desvalorização está a fazer mexer os mercados e os investidores estão a reduzir a sua exposição ao risco. “O mercado pode interpretar esta mensagem como [o reflexo] de que a economia chinesa se está a comportar tão mal como algumas das avaliações mais pessimistas apontam”, escrevem os analistas do Citigroup.

Alguns temem também que esta iniciativa chinesa seja o primeiro verdadeiro tiro de partida para uma guerra de divisas entre as maiores potências regionais.

Afinal, o que é que o Banco Popular da China fez?
Ao contrário de divisas como o euro ou o dólar, o yuan não flutua livremente no mercado. Em vez disso, todos os dias de manhã (9h15 em Pequim), o Banco Popular da China anuncia uma espécie de preço diário para a moeda. Isto é, um valor médio de câmbio a partir do qual a divisa pode apreciar ou depreciar 2%. Agora esse valor foi ajustado 1,9%, com a moeda a continuar a poder flutuar os anteriores 2%, mas a partir de um ponto “mais baixo”.
Fonte: Negócios

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